A rodovia Belém-Brasília foi um projeto audacioso para ligar o Norte ao resto do Brasil
Antes da Belém-Brasília, o Pará estava isolado do resto do País. Para se ter uma idéia, para se chegar a Belém, só por via aérea ou marítima. Outra opção, a mais penosa, seria via terrestre, através de picada aberta na mata, partindo do Maranhão, seguindo a região costeira, passando por Santa Helena, Viseu, Bragança e chegando à capital paraense através da região do Salgado. Por esta rota também vinham rebanhos de outras regiões.
Muitos obstáculos desafiaram JK na empreitada da construção da rodovia no trecho que cortaria a selva amazônica. Entre eles, além do alto custo, a presença de índios, animais selvagens e doenças tropicais ameaçavam a continuidade do projeto. No ano de 1959, um decreto assinado pelo presidente previa a construção da Belém-Brasília, sendo encarregado para a tarefa o engenheiro Bernardo Sayão.
Pela lei que previa também a construção da nova capital federal, uma rede de rodovias ligaria a sede do governo às demais regiões do Brasil. Seriam elas a Brasília-Rio de Janeiro (hoje rodovia Juscelino Kubitscheck), Brasília-São-Paulo (atual via Anhanguera), Brasília-Livramento, Brasília-Fortaleza, Brasília-Acre e Brasília-Belém ou Belém-Brasília.
Para o projeto foram criadas duas frentes de serviço: de Brasília até determinado ponto e de Belém até o mesmo local, onde aconteceria o encontro das duas partes da estrada. O lugar é conhecido hoje como Ligação do Pará, situado entre os municípios de Ulianópolis e Dom Eliseu. A maioria dos fatos envolvendo o desbravamento da região está registrada no livro “Paragominas - A Realidade do Pioneirismo”, da historiadora Gláucia Ligia Rabello Leal.
A Belém-Brasília, com2.772 km , dos quais 450 dentro da selva amazônica, corta os Estados de Goiás, Tocantins, Maranhão e Pará. Inaugurada em 1960, a rodovia não pôde ser contemplada pelo autor da obra, Bernardo Sayão, que morreu em 15 de janeiro de 1959, vitimado pela queda de uma árvore gigantesca dentro de um alojamento na Vila Ligação, em Ulianópolis.
CARAVANA
Em abril de 1960 partiu de Belém, já pela nova estrada, a “Caravana da Integração”, composta por caminhões, ônibus e veículos menores transportando políticos e jornalistas para assistirem à inauguração de Brasília. Hoje identificada por diferentes siglas, anteriormente a Belém-Brasília era conhecida como BR-014.
A cidade de Paragominas, como outras, nasceu em função da rodovia, que antes passava dentro da cidade, mas hoje está separada do município por doze quilômetros de estrada.
Quando seus pioneiros chegaram, na verdade já traziam um mapa da região, demarcando o local exato da construção do município. Dentre os fundadores de Paragominas, destacam-se Célio Rezende Miranda, idealizador da cidade, natural da cidade de Patrocínio (MG), e seus dois assessores diretos, Eliel Pereira Faustino e Manoel Alves de Lima.
Célio Miranda se destacou pela coragem, construindo Paragominas com recursos próprios e com a venda das glebas de terras para aqueles que pretendiam fixar-se na região, criando várias fazendas, atestadas através de documentos, sendo que o dinheiro era empregado na construção da cidade, uma vez que não recebia incentivo dos governos estadual e federal.
A idéia de construir a cidade surgiu em 1958, quando o jornalista Onofre Rezende de Miranda soube dos planos de JK para construir a Belém-Brasília. Em conversa com o presidente, Onofre indicou o irmão, Célio Miranda, que sonhava com a colonização da região às margens da rodovia.
Célio sempre ouvira falar das imensas riquezas do Pará, de suas matas inexploradas e do clima propício para a agropecuária. Depois de uma viagem ao Estado, concluiu que para fazer a colonização era preciso constituir uma população no local, fato que só seria possível com a criação de uma cidade.
Em setembro de 1958, Célio foi ao encontro do presidente, obtendo autorização para desbravar a região. Entusiasmado com a vontade do mineiro, JK entregou-lhe um documento que deveria ser repassado ao então governador do Pará, Magalhães Barata, solicitando ao governo paraense que cedesse glebas de terra ao desbravador. O presidente acreditava que apoiando os projetos de Célio Miranda povoaria a região e evitaria a invasão da área por grupos estrangeiros.
Em Goiás, com o aval de JK e Magalhães Barata, Célio Miranda saiu à procura de investidores que se interessassem em possuir terras e constituir fazendas no Pará.
Em 1958, o mineiro Severino José Guimarães conseguiu junto a Célio Miranda 15 glebas no Pará, a fim de serem vendidas. Precisando fornecer informações precisas aos interessados, Severino Guimarães partiu de Uberlândia até o Pará, de avião, no dia 24 de dezembro de 1958, pernoitando em Brasília, chegando a Belém no dia seguinte. Dia 28 embarcou em um caminhão rumo a São Miguel do Guamá. No dia 29, outro caminhão o conduziu até o Km 75. Dali em diante não havia mais estradas. Depois de sobrevoar a região, o mineiro retornou para Uberlândia eufórico com tudo o que viu em terras paraenses.
Aventura durou duas semanas
Antes do término da Belém-Brasília, em1958, a família Uliana, uma das pioneiras da região sudeste do Pará, já exercia atividade comercial no Estado e estava à procura de terras para se instalar. Os primeiros a chegar na região de Paragominas, no Gurupizinho, hoje município de Ulianópolis, foram Elias e Zandino Uliana, sendo que Elias trabalhou com a equipe de Célio Miranda na demarcação da cidade. Dois anos depois, outros integrantes da família vieram, entre eles Camilo Uliana, que exercia carreira política no Espírito Santo e foi prefeito de Paragominas.
Neste mesmo ano, o patriarca da família, Giácomo Uliana, demarcou suas terras, juntamente com seus filhos. Os Uliana trabalharam unidos até o ano de 1965, quando o patriarca fez a partilha da herança entre os filhos, que passaram a administrar individualmente suas partes. Recentemente, a matriarca da família, Joana Uliana, faleceu aos 107 anos. Conforme relato dos irmãos Camilo e Zandino Uliana, a família viajou do Espírito Santo ao Pará de caminhão, numa verdadeira aventura.
A viagem durou cerca de 16 dias. Camilo lembra que viajavam cerca de 18 horas por dia e dormiam dentro do caminhão pau-de-arara, onde transportavam a cozinha e toda a mudança. Zandino ressaltou que a viagem só era interrompida para refeições, banho, lavagem de roupas e abastecimento de água e lenha.
Quando chegou ao Pará, a família investiu no plantio de arroz, pecuária e atividade madeireira. Antes parte integrante do município de Paragominas, a localidade denominada Gurupizinho, hoje Ulianópolis, recebeu este nome em homenagem à família Uliana, que desbravou a região. Muitos integrantes ainda residem no município, entre eles os irmãos Camilo e Zandino.
Uma odisséia pelo rio Araguaia
Formada por um agrimensor, quatro topógrafos, um motorista, um piloto de barco e cinco auxiliares, a “Caravana Desbravadora”, que contava com Vicente Gomes Machado, Altair Gomes Silva, José Porto, Mário de Souza, Abadio, Antonio Escórcio Sobrinho, Clóvis (piloto do barco), José Vaz (motorista), Severino José Guimarães, Alceu José Guimarães e Manoel Alves de Lima, partiu num caminhão fretado no dia 10 de abril de 1959 rumo ao Pará. A viagem durou 45 dias, marcadas por várias dificuldades, entre elas os grandes atoleiros da estrada, o que obrigava os membros da caravana a descarregar o caminhão para retirar o peso e vencer o obstáculo.
No dia 13 de abril, os desbravadores, após passagem penosa por serras, atoleiros e chapadões, finalmente chegaram a Arauanã, a200 Km de Goânia, às margens do rio Araguaia. O caminhão foi descarregado e a viagem prosseguiu através do rio Araguia, que nasce em Goiás, na Serra do Caiapó, e deságua no rio Tocantins, no Pará. A equipe seguiu então para Santa Izabel, no barco “Carajás”, onde encontrariam a embarcação “Bitiá”, que os levaria até Conceição do Araguaia.
Enfrentando grandes dificuldades e obstáculos, entre eles cachoeiras, perigos da selva, hostilidade local e falta de dinheiro, a caravana chegou em Belém no dia 17 de maio de 1959, sem dinheiro sequer para comer. No dia 19 de maio, Célio Miranda chegou a Belém e encontrou os membros da caravana, levando-os para jantar no melhor restaurante da cidade, que na época funcionava no Hotel Central.
Dali em diante, uma parte da caravana partiu de Belém, através do rio Guamá, subindo em seguida o rio Capim até um lugar denominado Fronteira (posto de fiscalização do Estado). Ali ficaram até a reorganização da expedição. Em seguida, todas as providências foram tomadas para juntar 80 homens para trabalhar no lugar onde começaria o Picadão da Belém-Brasília.
Passo a passo, derrubando árvores, eles iam penetrando floresta adentro, enfrentando o cansaço e a fadiga. Tudo foi feito com instrumentos primitivos. Como a nova cidade precisava de um nome, Célio Miranda, em reunião com os pioneiros, optou por batizá-la como Paragominas, uma homenagem às terras pertencentes ao Pará e aos colonizadores, oriundos de Goiás e Minas Gerais.
Não foram poucas as dificuldades enfrentadas pelos desbravadores. Lentamente, a grande clareira, aberta pelo desmatamento, começou a mudar de forma e dar lugar a rústicos barracos e cabanas. Uma vila começava a tomar forma. Na época, um contratempo por pouco não impediu a continuidade do projeto. O governo do Pará não via com bons olhos o surgimento de Paragominas, alegando, entre outras coisas, problemas militares.
Em 23 de janeiro de 1961 foi lançada a pedra fundamental do futuro município,com uma missa que abençoou a nova “Vila de Paragominas”, hoje um dos mais importantes municípios do Pará.
Muitos obstáculos desafiaram JK na empreitada da construção da rodovia no trecho que cortaria a selva amazônica. Entre eles, além do alto custo, a presença de índios, animais selvagens e doenças tropicais ameaçavam a continuidade do projeto. No ano de 1959, um decreto assinado pelo presidente previa a construção da Belém-Brasília, sendo encarregado para a tarefa o engenheiro Bernardo Sayão.
Pela lei que previa também a construção da nova capital federal, uma rede de rodovias ligaria a sede do governo às demais regiões do Brasil. Seriam elas a Brasília-Rio de Janeiro (hoje rodovia Juscelino Kubitscheck), Brasília-São-Paulo (atual via Anhanguera), Brasília-Livramento, Brasília-Fortaleza, Brasília-Acre e Brasília-Belém ou Belém-Brasília.
Para o projeto foram criadas duas frentes de serviço: de Brasília até determinado ponto e de Belém até o mesmo local, onde aconteceria o encontro das duas partes da estrada. O lugar é conhecido hoje como Ligação do Pará, situado entre os municípios de Ulianópolis e Dom Eliseu. A maioria dos fatos envolvendo o desbravamento da região está registrada no livro “Paragominas - A Realidade do Pioneirismo”, da historiadora Gláucia Ligia Rabello Leal.
A Belém-Brasília, com
CARAVANA
Em
A cidade de Paragominas, como outras, nasceu em função da rodovia, que antes passava dentro da cidade, mas hoje está separada do município por doze quilômetros de estrada.
Quando seus pioneiros chegaram, na verdade já traziam um mapa da região, demarcando o local exato da construção do município. Dentre os fundadores de Paragominas, destacam-se Célio Rezende Miranda, idealizador da cidade, natural da cidade de Patrocínio (MG), e seus dois assessores diretos, Eliel Pereira Faustino e Manoel Alves de Lima.
Célio Miranda se destacou pela coragem, construindo Paragominas com recursos próprios e com a venda das glebas de terras para aqueles que pretendiam fixar-se na região, criando várias fazendas, atestadas através de documentos, sendo que o dinheiro era empregado na construção da cidade, uma vez que não recebia incentivo dos governos estadual e federal.
A idéia de construir a cidade surgiu em 1958, quando o jornalista Onofre Rezende de Miranda soube dos planos de JK para construir a Belém-Brasília. Em conversa com o presidente, Onofre indicou o irmão, Célio Miranda, que sonhava com a colonização da região às margens da rodovia.
Célio sempre ouvira falar das imensas riquezas do Pará, de suas matas inexploradas e do clima propício para a agropecuária. Depois de uma viagem ao Estado, concluiu que para fazer a colonização era preciso constituir uma população no local, fato que só seria possível com a criação de uma cidade.
Em setembro de 1958, Célio foi ao encontro do presidente, obtendo autorização para desbravar a região. Entusiasmado com a vontade do mineiro, JK entregou-lhe um documento que deveria ser repassado ao então governador do Pará, Magalhães Barata, solicitando ao governo paraense que cedesse glebas de terra ao desbravador. O presidente acreditava que apoiando os projetos de Célio Miranda povoaria a região e evitaria a invasão da área por grupos estrangeiros.
Em Goiás, com o aval de JK e Magalhães Barata, Célio Miranda saiu à procura de investidores que se interessassem em possuir terras e constituir fazendas no Pará.
Em 1958, o mineiro Severino José Guimarães conseguiu junto a Célio Miranda 15 glebas no Pará, a fim de serem vendidas. Precisando fornecer informações precisas aos interessados, Severino Guimarães partiu de Uberlândia até o Pará, de avião, no dia 24 de dezembro de 1958, pernoitando em Brasília, chegando a Belém no dia seguinte. Dia 28 embarcou em um caminhão rumo a São Miguel do Guamá. No dia 29, outro caminhão o conduziu até o Km 75. Dali em diante não havia mais estradas. Depois de sobrevoar a região, o mineiro retornou para Uberlândia eufórico com tudo o que viu em terras paraenses.
Aventura durou duas semanas
Antes do término da Belém-Brasília, em
Neste mesmo ano, o patriarca da família, Giácomo Uliana, demarcou suas terras, juntamente com seus filhos. Os Uliana trabalharam unidos até o ano de 1965, quando o patriarca fez a partilha da herança entre os filhos, que passaram a administrar individualmente suas partes. Recentemente, a matriarca da família, Joana Uliana, faleceu aos 107 anos. Conforme relato dos irmãos Camilo e Zandino Uliana, a família viajou do Espírito Santo ao Pará de caminhão, numa verdadeira aventura.
A viagem durou cerca de 16 dias. Camilo lembra que viajavam cerca de 18 horas por dia e dormiam dentro do caminhão pau-de-arara, onde transportavam a cozinha e toda a mudança. Zandino ressaltou que a viagem só era interrompida para refeições, banho, lavagem de roupas e abastecimento de água e lenha.
Quando chegou ao Pará, a família investiu no plantio de arroz, pecuária e atividade madeireira. Antes parte integrante do município de Paragominas, a localidade denominada Gurupizinho, hoje Ulianópolis, recebeu este nome em homenagem à família Uliana, que desbravou a região. Muitos integrantes ainda residem no município, entre eles os irmãos Camilo e Zandino.
Uma odisséia pelo rio Araguaia
Formada por um agrimensor, quatro topógrafos, um motorista, um piloto de barco e cinco auxiliares, a “Caravana Desbravadora”, que contava com Vicente Gomes Machado, Altair Gomes Silva, José Porto, Mário de Souza, Abadio, Antonio Escórcio Sobrinho, Clóvis (piloto do barco), José Vaz (motorista), Severino José Guimarães, Alceu José Guimarães e Manoel Alves de Lima, partiu num caminhão fretado no dia 10 de abril de 1959 rumo ao Pará. A viagem durou 45 dias, marcadas por várias dificuldades, entre elas os grandes atoleiros da estrada, o que obrigava os membros da caravana a descarregar o caminhão para retirar o peso e vencer o obstáculo.
No dia 13 de abril, os desbravadores, após passagem penosa por serras, atoleiros e chapadões, finalmente chegaram a Arauanã, a
Enfrentando grandes dificuldades e obstáculos, entre eles cachoeiras, perigos da selva, hostilidade local e falta de dinheiro, a caravana chegou em Belém no dia 17 de maio de 1959, sem dinheiro sequer para comer. No dia 19 de maio, Célio Miranda chegou a Belém e encontrou os membros da caravana, levando-os para jantar no melhor restaurante da cidade, que na época funcionava no Hotel Central.
Dali em diante, uma parte da caravana partiu de Belém, através do rio Guamá, subindo em seguida o rio Capim até um lugar denominado Fronteira (posto de fiscalização do Estado). Ali ficaram até a reorganização da expedição. Em seguida, todas as providências foram tomadas para juntar 80 homens para trabalhar no lugar onde começaria o Picadão da Belém-Brasília.
Passo a passo, derrubando árvores, eles iam penetrando floresta adentro, enfrentando o cansaço e a fadiga. Tudo foi feito com instrumentos primitivos. Como a nova cidade precisava de um nome, Célio Miranda, em reunião com os pioneiros, optou por batizá-la como Paragominas, uma homenagem às terras pertencentes ao Pará e aos colonizadores, oriundos de Goiás e Minas Gerais.
Não foram poucas as dificuldades enfrentadas pelos desbravadores. Lentamente, a grande clareira, aberta pelo desmatamento, começou a mudar de forma e dar lugar a rústicos barracos e cabanas. Uma vila começava a tomar forma. Na época, um contratempo por pouco não impediu a continuidade do projeto. O governo do Pará não via com bons olhos o surgimento de Paragominas, alegando, entre outras coisas, problemas militares.
Em 23 de janeiro de 1961 foi lançada a pedra fundamental do futuro município,com uma missa que abençoou a nova “Vila de Paragominas”, hoje um dos mais importantes municípios do Pará.
Meu nome é Edivaldo Uliana, e sou filho de Elias Uliana. Lamento informar a autora do texto acima que ela está equivocada em relação aos Uliana.Se tiver interesse de escrever a verdade sobre o assunto posso dar esclarecimentos que possam enriquecer seus escritos. Meu email é edivaldouliana@gmail.com/ fone : 91 988314213.
ResponderExcluirva cagar
ExcluirMuito bom professora!
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