No Tocantins, a modernidade convive em total harmonia com as tradições. Ao mesmo tempo em que a capital do estado, Palmas, é a ultima cidade brasileira planejada do século 20, recebendo como moradores pessoas de todo o país, existe no Tocantins uma população aproximada de 10 mil indígenas. Todos com cultura e tradições muito bem preservadas.
São indígenas de sete etnias: Karajá, Xambioá, Javaé (que formam o povo Iny) e os Xerente, Krahô Canela, Apinajè e Pankararú. Eles se distribuem em mais de 82 aldeias, em municípios de todas as regiões do Estado.
Dependendo das peculiaridades e habilidades de cada etnia, os indígenas do Tocantins chamam a atenção pela beleza do artesanato que fazem, pelas pinturas e adornos que enfeitam seus corpos nas festas e rituais ou pela própria simbologia destes eventos seculares.
Povo Iny - Karajá, Xambioá e Javaé
Após longos períodos de migração devido as invasões de seu território e aos confrontos com outras etnias, o povo Iny (Karajá, Karajá/Xambioá e Javaé) se firmou na Ilha do Bananal (os Karajá e Javaé, em aldeias distintas) e no município de Xambioá (os Karajá/Xambioá).
Os indígenas que formam o Povo Iny falam a mesma língua, possuem os mesmos costumes e se identificam uns com os outros como parentes. Embora geograficamente separados, pertencem aos mesmos antepassados.
A característica desse povo é pertencer ao tronco lingüístico Macro-Jê, família e língua Karajá, e por ter a coleta, a pesca e a agricultura como atividades.
O povo Iny organiza-se em famílias extensas que incluem, além da família nuclear, genros e netos. São essencialmente pescadores e sempre viveram do que o rio lhes oferece. Embora hoje tenham suas casas permanentes em cima das barrancas do rio, durante o período da estiagem, passam a maior parte do tempo nas praias, pescando e coletando. Quando chegam as chuvas, dedicam-se às atividades agrícolas. Cada família tem o seu roçado e cultiva mandioca, banana, cana-de-açúcar, milho, batata-doce, cará e arroz.
O iny é excelente artesão da arte plumária (confecção de haretôs, colares, brincos, braçadeiras e tornozeleiras), cerâmica (potes, pratos, tigelas e bonecas ornamentais - ritxokò ) e de cestaria, que serve para transporte e armazanamento de mantimentos.
Xerente
Vivem na margem direita do rio Tocantins, próximos à cidade de Tocantínia, nas reservas indígenas Xerente e Funil (que somam 183.542 hectares de área demarcada). Os Xerente também pertencem ao grupo lingüístico Macro-Jê.
Os Xerente contam atualmente com uma população de quase 1.800 pessoas distribuídas em 33 aldeias.
Os 250 anos de contato dos Xerente com não-indígenas não afetaram sua identidade étnica. As rápidas e intensas transformações sociais, políticas e econômicas que atingem a região na qual residem têm proporcionado a esse povo, não sem dificuldades, uma participação ativa nos processos decisórios que os envolvem.
Hábeis no artesanato em trançado, com a palha de babaçu e a seda do buriti eles produzem cestas, balaios, bolsas, esteiras e enfeites para o corpo.
Festas: Festa de dar nomes – Wakê; Homenagem aos mortos – Kuprê; Padi – tamanduá bandeira; Corrida de toras de buriti; Feira de Sementes do Cerrado.
Krahô
Vivem em aldeias de estrutura circular, com habitações em torno de uma área vazia. Neste pátio central (ou Ka), que representa o coração da aldeia, eles se reúnem para dividir o trabalho e tomar as decisões da comunidade.
Suas aldeias se localizam próximas aos municípios de Itacajá e Goiatins, no nordeste do Estado, em reserva de 302.533 hectares e uma população aproximada de 830 habitantes. Também pertencem ao tronco Macro-Jê.
A divisão de trabalho na aldeia é feita pela separação de sexo e idade. Os homens cuidam da agricultura e das atividades guerreiras, caçam e pescam. Os caçadores, para serem bem-sucedidos, além de observar os locais e ocasiões propícias para a caçada, devem conhecer bem os hábitos dos animais para melhor procurá-los ou esperá-los. Também são utilizados recursos místicos. As mulheres fazem a coleta, plantam e cuidam da casa. As crianças imitam os adultos do mesmo sexo e os velhos são representantes da tradição, conselheiros e sábios.
Os Krahô possuem como símbolo sagrado uma machadinha de pedra, que chamam de Khoyré e acreditam ser responsável por manter a harmonia e o respeito dentro da comunidade. Mantêm a tradição da corrida de toras de buriti. No artesanato, são hábeis em fazer trançados e artefatos de sementes nativas.
Festas: Festa da Batata (Panti - celebra a colheita e é realizada durante o verão); Festa do Milho (pônhê – também celebra a colheita); Festa wythô; Empenação das Crianças, Feira da Semente e Corrida de Toras (com participação de homens e mulheres que correm com toras de buriti especialmente preparadas para cada tipo de festa).
Krahô-Canela
Este povo assim se auto-identifica como Krahô–Canela por ser descendente de duas etnias distintas: Krahô e Canela, do povo Timbira (tronco Macro-Jê), originárias do Maranhão. Atualmente os Krahô-Canela estão em processo ocupação das terras de mata alagada, no município de Lagoa da Confusão, ao mesmo tempo em que se dedicam ao resgate de sua cultura
Apinajé
Vivem na região Norte do Estado, em área de reserva que abrange parte dos municípios de Tocantinópolis, Maurilândia, Cachoeirinha e Lagoa de São Bento, somando 141.904 hectares em sete aldeias. Também pertencem ao tronco lingüístico Macro-Jê.
Os Apinajé sobrevivem da agricultura de subsistência, da caça e da coleta de babaçu - do qual extraem o óleo das amêndoas e aproveitam a palha para fabricar utensílios domésticos e fazer a coberturas de suas casas. As cascas do babaçu são utilizadas como lenha para cozinhar.
Tradicionalmente, plantam milho, mandioca, amendoim, feijão, batata-doce e inhame e coletam andu, pequi, buriti, bacaba, bacuri, babaçu, açaí, murici, tucum e palmito, que complementam a alimentação.
Também produzem artesanato de sementes nativas do cerrado e das peças feitas em palha de babaçu, que comercializam nas cidades vizinhas.
Os primeiros registros do povo Apinajé, na região onde vive hoje, vêm do ano de 1774. Em 1780, foi criado o primeiro posto militar em Alcobaça para tentar conter os Apinajés, que eram conhecidos como grandes guerreiros, os poderosos índios da região Norte. O avanço da colonização sobre as terras dos Apinayés teve início em 1797, com a tentativa do governo de incentivar o povoamento da região.
Festas: Ritual de homenagem aos morto – Párkape e Ritual para retorno do espírito do doente ao corpo – Mêkaprî
Pankararu
Localizados no município de Gurupi, terceira maior cidade do Tocantins, os Pankararu são originários do sertão de Pernambuco, aldeia Brejo dos Padres. Há mais de 30 anos migraram para o antigo norte goiano, expulsos pela ação dos posseiros.
Reconhecidos recentemente pela Funai, os Pankararu estão vivendo o processo de criação da sua reserva indígena e o resgate do ritual “o encantado”.